terça-feira, 3 de novembro de 2009

Falsos vilões



Uma lei aprovada sob pressão da bancada governista na Assembleia Legislativa impõe restrições tão severas às sacolas plásticas, que ameaçam inviabilizar uma indústria que envolve dezenas de pequenas e médias empresas no Estado do Rio de Janeiro, e, portanto, alguns milhares de empregos.
Consideradas vilões ambientais, que entupiriam ralos, poluiriam cursos d’água e levariam centenas de anos para se decompor na natureza, as sacolas plásticas, seguramente, não andam, não nadam, não voam nem sobem em árvores. Se estão em locais inadequados é porque não foi dado o destino correto, que seria a reciclagem, talvez por falta de uma política de coleta seletiva e incentivo. Ao contrário, reprime uma imensa indústria de reciclagem que envolve o trabalho de milhares de pessoas, em sua maioria gente humilde, que não tem outra fonte de recursos.
Ouvidos bloqueados pelo canto de sereia do ambientalismo bem intencionado mas inconsequente, que ignora realidades econômicas e interesses sociais, os deputados esqueceram-se de que as sacolas são aprovadas por quase 80% da população (Ibope/2007) e utilizadas para inúmeras finalidades, mesmo depois de carregar as compras (guardar lixo é a mais comum, e sem elas, o lixo seria lançado diretamente nas ruas).
Esqueceram-se também de que o plástico, com suas milhares de aplicações, inclusive a de geração de energia, e sua infinita capacidade de regeneração até desaparecer como vapor d’água ao fim de seu ciclo de vida, proporciona à humanidade um dos períodos mais férteis na história da tecnologia. Marcham na contramão do mundo, que crescentemente utiliza o plástico em substituição a matérias-primas naturais não-renováveis, ao mesmo tempo em que desenvolve métodos cada vez mais modernos e eficientes de reciclagem e reaproveitamento.
Aqui mesmo no Brasil, criamos, há pouco, um papel feito a partir da reciclagem do plástico. Cada tonelada desse papel oriundo da reciclagem poupa a vida de dez árvores.
No Canadá, um adolescente de 16 anos, Daniel Burd, descobriu uma composição de bactérias que acelera drasticamente (de 400 anos para um mês e meio) a decomposição, sem emissão de substâncias nocivas, do polietileno, que é a matéria-prima das sacolas plásticas. Ganhou um prêmio de US$ 10 mil e verá, em breve, sua descoberta chegar ao mercado.
Ou seja, algumas soluções estão disponíveis (a reciclagem) e outras a caminho. Espera-se, portanto, que a sensatez prevaleça sobre as vozes dissonantes e derrote s interesses de grupos econômicos, que querem repassar aos consumidores os custos das sacolas de supermercados e do comércio em geral. Alguns desses grupos, inclusive, estão pondo à venda, a preços salgados, sacolas ditas “ecológicas”, feitas, em parte de plástico!

Fonte: jornal "Eccovida", setembro/outubro 2009, página 8 (ONG Eccovida, de Maricá, RJ)

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