terça-feira, 22 de setembro de 2009

Saiu no jornal

Confira matéria publicada no caderno "Baixada" do jornal "O Dia" neste domingo, 20 de setembro.

Vida renovada nos manguezais
Uma década após acidente com o vazamento do óleo na Baía de Guanabara, mangue da APA de Guapimirim tem crescimento de 500 hectares. Em Mauá, no município de Magé, a população de caranguejos já é superior a 1 milhão de crustáceos adultos


O reflorestador José Alves dos Santos comemora a multiplicação dos caranguejos na Praia de Mauá com apoio do projeto Mangue Vivo

O mangue voltou a “pulsar” na Baixada Fluminense. Quase dez anos após o acidente ecológico que contaminou a Baía de Guanabara com mais de 1 milhão de litros de óleo da tubulação da Petrobras, a natureza reagiu. Estudo apresentado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Congresso de Sensoreamento Remoto, mostra que o manguezal da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim cresceu naturalmente cerca de 500 hectares na última década.

Na Praia de Mauá, em Magé, outra boa notícia para a natureza. O projeto Mangue Vivo, tocado pela ONG Vida Azul em parceria com a iniciativa privada, triplicou os resultados nos últimos quatro anos.

Um alento para crustáceos, cobras, capivaras, biguás e várias aves migratórias que encontram um porto seguro nos 7,1 mil hectares do manguezal da APA de Guapimirim ou nos 12 hectares do mangue em recuperação na Praia de Mauá.

“Foi um crescimento natural do mangue. É um excelente indicativo de que a APA desempenha o seu papel. Existem atividades de fiscalização ambiental, como patrulhamento aquático, terrestre e, eventualmente, aéreo, de helicóptero. Evitamos a ocupação desordenada e retirada de madeira e a pesca predatória. Infelizmente, o resto da Mata Atlântica está sofrendo progressiva redução de cobertura vegetal”, diz o diretor da APA, Breno Herrera.
No projeto Mangue Vivo, o replantio de espécies de mangue vermelho, branco e preto está abrigando uma população de mais de 1 milhão de caranguejos, o triplo do que era registrado em 2005. “Eles estão em época de reprodução. Em breve, teremos muito mais caranguejos por aqui”, comemora o reflorestador do projeto José Alves dos Santos.
Para Antônia Ozório da Silva, coordenadora da ONG Vida Azul, apesar de receber menos verba do que no início do projeto, quando outras quatro ONGs trabalhavam juntas, o mangue otimizou a sua própria estrutura. “Com a repercussão da área, foi criado um novo habitat. E além dos crustáceos que já existiam no local, outras quatro espécies reapareceram na área”, afirma a coordenadora.
Ecossistema recuperado abriga fauna rica e variada
Golfinhos e tartarugas marinhas já começam a buscar abrigo nas áreas da APA de Guapimirim
Há cerca de quatro meses, um bando de golfinhos foi avistado na área do manguezal da APA de Guapimirim. Os animais, que já foram comuns da Baía de Guanabara e estão incluídos no brasão do Estado do Rio de Janeiro, atravessaram o mar poluído e encontraram qualidade de vida no ecossistema da região. Tartarugas marinhas também já foram avistadas recentemente. “É um dado praticamente inédito no Rio: uma área protegida ter uma ampliação natural”, vibra o diretor da APA de Guapimirim, Breno Herrera.

No local, há registro de mamíferos como lontras, capivaras e guaxinins. Existem ainda exemplares do jacaré-do-papo-amarelo, em extinção, e várias espécies de cobras, como jibóias e jararacas. Foram catalogadas 172 espécies de aves, com destaque para garças, maguaris, socós, biguás, coleiros, além da marreca caneleira, também ameaçada.

Mas para preservar a vida nos 14 mil hectares da APA de Guapimirim, que inclui áreas da Mata Atlântica e manguezal distribuídas pelos municípios de Guapimirim, Magé, Itaboraí e São Gonçalo, não é fácil. Na vigilância estão dois guardas do Instituto Chico Mendes, de três a quatro policiais do Batalhão Florestal da Polícia Militar e 10 guardas municipais da Prefeitura de Itaboraí.

“Temos também outra linha de ação, que é a educação ambiental, com visitas guiadas das escolas da região, na maioria, públicas. E existem atividades de pesquisas científicas. É a APA federal com maior número de pesquisas em andamento. A Uerj estuda a ecologia vegetal; a UFF, a fauna de caranguejos; e a PUC está avaliando a qualidade das águas”, enumera Breno.
A condução de visitantes é importante para a preservação. A cooperativa Manguezal Fluminense, formada por famílias de pescadores e caranguejeiros, opera no setor de ecoturismo da APA. Define as rotas de visitação na unidade de conservação, os períodos mais propícios, capacidade de carga e até quantos barcos podem circular por dia.
A APA funciona com um conselho gestor, que se reúne a cada três meses. É composto por representantes federais, estaduais e de associações. “Estamos trabalhando com áreas degradadas, em parceria com o Inea. As fazendas da unidade vão receber replantio experimental para aumentar a área protegida de manguezal nos limites da unidade de conservação”, acrescentou o diretor.
Segundo Breno, o principal problema é a expansão urbana desordenada. “Os municípios limítrofes da Baixada Fluminense possuem taxas altas de urbanização e as áreas de mangue sofrem ocupação clandestina. Temos que ter uma fiscalização permanente”, destaca.

Aterro divide manguezal no bairro Beira Mar, em Duque de Caxias

Ações de compensação ambiental

O secretário municipal de Meio Ambiente de Duque de Caxias, Samuel Maia, disse que os licenciamentos para aterro e a compactação do solo estão reduzindo o manguezal no bairro Beira Mar. Ele vai apresentar projetos para empresas que se desenvolveram ao redor do manguezal do município e que possuem passivo ambiental.

Segundo Samuel Maia, a empresa que for explorar o biogás do aterro de Jardim Gramacho terá que investir R$ 400 milhões em ações compensatórias, sendo que R$ 80 milhões deverão ir para Caxias e serão aplicados em projetos de capacitação de jovens agentes ambientais, além de projetos paisagísticos e de recuperação na área ao redor do mangue.

A empresa WTorre, que está construindo um empreendimento imobiliário na área do bairro Beira Mar, informou que é responsável pela recuperação do mangue aterrado, de forma sustentável. Para desenvolver o projeto, contratou um biólogo. “Hoje existe uma floresta de mais de 300 mil metros quadrados, povoada de várias espécies”, garante o superintendente Solano Neiva.

Texto: Helvio Lessa/O Dia

Fotos: Paulo Araújo/O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário