segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Saiu no jornal

Leia reportagem publicada pelo jornal "O Globo" neste domingo, dia 20 de setembro de 2009.



Na combalida Baía, manguezais dão sinal de vida

Estudo do Inpe revela que vegetação dentro de APA se expandiu por uma área equivalente a cem campos de futebol

A Baía de Guanabara avistada por Américo Vespúcio em 1500 em nada parecia uma boca banguela: sua costa era bordejada por 262 quilômetros quadrados de um manguezal viçoso, que alimentava farta vida marinha. Nesses cinco séculos, ela perdeu muito para o progresso e a industrialização. Mas, antes que extraíssem todos os seus galhos, ganhou a proteção da APA de Guapimirim.

Em seu 25º aniversário, a unidade de conservação divulgou um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com imagens de satélite revelando que o manguezal, protegido da ação do homem, aumentou em cerca de 100 hectares – área equivalente a 100 campos de futebol – entre 1996 e 2007. E o melhor, 700 hectares de mangue esparso foram reclassificados como mangue denso.

O chefe da APA, Breno Herrera, comemora o fato apesar de reconhecer a situação precária da baía.

“A gestão ambiental está cumprindo o seu papel ao permitir que a natureza se recupere naturalmente. A fiscalização provocou a redução do corte de madeiras em olarias e padarias, além de reprimir todo tipo de ocupação irregular. É a prova de que unidades de conservação podem dar certo.

Além da APA de Guapimirim, que tem 71 quilômetros quadrados de ecossistema em bom estado, três outras pequenas unidades de conservação ajudam a manter o que resta de manguezal na baía: as APAs Estrela e Suruí, em Magé, e a Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (Aparu) de Jequiá, na Ilha do Governador. O geógrafo Elmo Amador, autor do mais completo estudo sobre a Baía de Guanabara, ressalta a importância da proteção de outras unidades.

“O Código Florestal proíbe o corte de árvores de mangue, mas esse instrumento não tem sido suficiente para conter o desmatamento de manguezais. Por isso, quanto mais áreas protegidas por unidades de conservação, melhor. O ideal era que existisse uma única unidade protetora de todos os manguezais da bacia da Baía de Guanabara”, sugere.

Breno comemora o fato de a expansão do manguezal ter ocorrido dentro de uma APA, unidade de uso sustentável, enquanto outras áreas, às vezes até com proteção integral, sofrem desmatamento.

A boa notícia veio num momento importante, às vésperas de uma mudança radical no perfil de ocupação de toda a região. O Instituto Chico Mendes, do Governo federal, prevê que o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) impulsione a implantação de outras atividades industriais, além de uma intensa ocupação urbana em toda a região.

“Atestamos o bom estado da APA antes da chegada do empreendimento. Agora, vamos avançar num projeto de reflorestamento de alguns trechos às margens do rio Caceribu. Serão 50 hectares experimentais”, adianta Breno.

Estado anuncia criação de parque fluvial em Magé

Mais um trecho de manguezal está a caminho de ser conservado. A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, anunciou a criação do Parque Fluvial do Rio Estrela, em Magé, que também protege a vegetação perto da foz do rio.

“A região de Magé, na altura da Praia de Mauá, terá manguezais mais densos. Além do parque fluvial, estamos repassando verba de medida compensatória para a APA Estrela, que faz um importante trabalho de recuperação do mangue impactado.

A invasão do ecossistema

Mangue desprotegido encolhe


Aterros, lixões e ocupações irregulares invadem o ecossistema

Enquanto a maior parte dos manguezais da Baía de Guanabara, sob a proteção de unidades de conservação, cresce a olhos vistos, uma parcela esquecida do ecossistema parece condenada a ser invadida por lixões, ocupações irregulares e aterros. Sobram, esquecidos, os manguezais de Duque de Caxias, de São Gonçalo, de Itaipu (Niterói), da Ilha do Fundão e do Caju (Rio). Para o biólogo Mário Moscatelli, que monitora o ecossistema em sobrevôos na região, o mangue desprotegido encolhe a cada dia.

“Em Duque de Caxias, o mangue é atingido de todos os lados: há lixões clandestinos, ocupações em aterros, além da própria Refinaria Duque de Caxias (Reduc). No rio Suruí, em Magé, há vários loteamentos sendo construídos em cima dos mangues. Em São Gonçalo, o peso no mangue é do esgoto, do lixo e da ocupação desordenada. Dois terços da pesca costeira depende diretamente dos nutrientes do mangue. É hora de conservarmos o ecossistema.

Texto: Tulio Brandão/O Globo
Foto: Custódio Coimbra/O Globo

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