quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um vermelho que vai ficando cada vez mais verde

Aconteceu, nos últimos dias de maio, a 5ª Conferência de Meio Ambiente de Duque de Caxias, na qual tive a honra de ser eleito membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente. Em tempos outros eu jamais participaria de algo assim. Minha formação política foi no PCB, antigo partidão, e tudo era sério demais se comparado aos dias de hoje.
Por isso, pessoas como eu nem arriscam participar de certos eventos nesta ingrata época de seriedade tão escassa.
No entanto, o secretário de Meio ambiente de Duque de Caxias, Samuel Maia, me garantiu que o processo se daria de forma correta e que ele próprio garantiria a lisura. Conhecendo-o bem, amigo de longa data, solicitei ao presidente do meu sindicato que efetivasse a inscrição e participei da Conferência.
Samuel cumpriu a palavra à risca, pois foram três dias de debates lúcidos, palestras importantíssimas e defesas transparentes de propostas embasadas no interesse coletivo. Bem diferente de outras esferas de atuação, onde, muitas vezes, as “deliberações finais” já estão definidas antes do começo dos trabalhos e indevidamente ensovacadas por algum minipoderoso, podemos dizer que a Conferência do Meio Ambiente foi algo realmente sério e transparente, coisa que nossos calejados olhos raramente veem. Várias palestras importantíssimas foram proferidas na Conferência, todas por profissionais altamente qualificados, mas uma delas me chamou especial atenção, pois tratava de um tema que nos é caro: o lixo.
Como sabemos, entre outras animalidades, a ditadura militar brasileira (1964-1985), impõs à nós, caxienses, o triste destino de sediar a lixeira da capital do estado. E pior, com o estabelecimento de um lixão que até hoje nos traz transtornos graves e paira, eternamente, como uma grave ameaça para o meio ambiente da cidade, pois trata-se de uma estrutura iminentemente fadada ao acidente ecológico.
Além de poluidor em sua essência, o lixão ainda tem como característica básica uma capacidade absurda de contaminar o solo, as águas e tudo o mais que estiver a sua volta. E que volta. As áreas utilizadas pelos lixões são enormes, expandindo gravemente o drama das pessoas em seu entorno. Recentemente, em Niterói, um antigo lixão foi palco de uma terrível tragédia e muitos outros, Brasil afora, estão causando agonias similares.
Tomamos conhecimento, no entanto, a partir da palestra do ambientalista Sérgio Ricardo, da OMA Brasil, instituição especializada em tratamento de resíduos sólidos, que há tecnologia disponível e soluções infinitamente mais sensatas para o problema do lixo. Usando uma área consideravelmente menor, investindo muito menos e qualificando e empregando pessoas, o nosso lixo urbano pode ser transformado em energia boa e limpa.
Falando assim parece um absurdo que ninguém tenha pensado em nada assim antes. Pois bem, pensaram. Muita gente vêm trabalhando na busca de soluções para o problema do lixo, mas, infelizmente, a criação de lixões contaminadores do ar, da terra e das águas ainda representa uma opção imensamente lucrativa para alguns governantes, tanto que há governadores que, desgraçadamente, oferecem incentivos fiscais aos prefeitos para que estes adotem soluções nocivas à vida e à dignidade humana.
Estaremos nos próximos anos trabalhando nisso, na busca de soluções para o meio ambiente de nossa cidade. Eu, que nasci vermelho, estou ficando cada vez mais verde, é verdade. As paixões são mesmo assim, se renovam e se modificam. De minha parte, não tenho dúvidas de que está é a melhor maneira de que disponho, hoje, para melhorar o mundo em que vivo. Então, vamos à luta...
Texto escrito pelo conselheiro eleito do COMDEMA-DC José Vicente Portella Eufrásio (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento Básico e Meio Ambiente do Rio de Janeiro - SINTSAMA/RJ; segmento entidade de classes trabalhadoras)

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