quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Meio ambiente, ser humano e aquecimento global

Enquanto o mundo avança na era da globalização e das novas tecnologias, que buscam facilitar o cotidiano e nos distanciarmos cada vez mais dos laços das condições humanas primárias (socialização, família, paz, amor, fraternidade, amizade, etc.), o mundo competitivo do capitalismo moderno ultra-selvagem, traz consequências graves a nossa qualidade de vida (...)

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Especialista em Supervisão Escolar – IESP (2009), Licenciado em Biologia – UFPB (2002), Professor da Educação Básica da Prefeitura Municipal de Cabedelo-PB.



Enquanto o mundo avança na era da globalização e das novas tecnologias, que buscam facilitar o cotidiano e nos distanciarmos cada vez mais dos laços das condições humanas primárias (socialização, família, paz, amor, fraternidade, amizade, etc.), o mundo competitivo do capitalismo moderno ultra-selvagem, traz consequências graves a nossa qualidade de vida. Se por um lado a fome ainda assola nos países de terceiro mundo, as doenças da civilização moderna (cardiopatias, cânceres, psicopatias, sociopatias etc.) proliferam pelos países de primeiro mundo (Capra, 2006).

A sociedade continua a emergir perante os paradigmas e problemas sociais arcaicos, que acompanham os novos tempos: antes fome, miséria e desigualdades sociais, para agora, somadas a estas, violência exacerbada, drogas de todos os tipos, guerras civis urbanas, golpes de estado, pandemias e epidemias entre tantos outros. Não resolvemos os antigos e, pelo contrário, adicionamos novos problemas a nossa desconfigurada humanidade.

Segundo Capra (2006a), pesquisas já mostraram que para as diferentes sociedades no globo ao longo da história da civilização humana, houve momentos de ascensão e declínio, causados exatamente por problemas semelhantes aos que vivenciamos hoje na sociedade ocidental. As sociedades que continuaram a existir foram devido às que respostas positivas que conseguiram ter e superaram tais problemas, outras como a Asteca, Maia, Assíria, Helênica etc., não conseguiram superar seus paradigmas e mazelas e, por esta razão, tiveram um declínio acelerado passando a registros históricos.

Conseguir superar a crise social e ambiental determinará o futuro da humanidade, porém, a visão cartesiana criada por Newton e que estamos habituados a ter (científica, metodológica, objetiva e concreta), que procura uma especificidade e não consegue abstrair e detectar as ramificações da vida por toda a biosfera, através da interação dos organismos com o planeta (CAPRA, 2006b), dificulta em termos uma visão holística, para então compreendermos a totalidade do meio ambiente, onde os efeitos causados pela ação humana em um hemisfério do planeta, atingem todo o globo (CAPRA, 2006b), como o aumento da temperatura em escala planetária, ou como as partículas do deserto do Saara que influenciam o regime pluviométrico da Amazônia (PENNI et al., 2009), ou ainda mais recente com o o terremoto no Haiti em 12 de janeiro de 2010, que foi registrado pelos sismógrafos no Rio Grande do Norte, Brasil: é o “efeito borboleta” tão preconizado pela teoria do Caos (SOUZA, 1999).

Jamais a ciência pode evoluir em detrimento da natureza ou ser dicotomizada dela. A Terra já mostrou em seus fenômenos que suas interfaces estão todas conectadas, como um ser vivente e fazemos parte dela (CAPRA, 2006a), seja na visão teológica dogmática (criacionista) onde temos a origem do solo moldado pelas mãos do criador divino, ou pela visão evolucionista, onde surgimos das substâncias do início da formação do planeta, com os coacervados*, DNA, as primeiras células e assim por diante (CASAS, 2010).

A Terra possui 4,5 bilhões de anos e o primeiro ser vivo data de 3,5 bilhões de anos (SWAMINATHAN, 2008). Já o primeiro hominídeos surgindo por volta de 500.000 anos a.C. e nós, Homo sapiens sapiens, estamos evoluindo de um ancestral que data de 150.000 mil anos a.C. (RIBEIRO, 2009). Porém, biologicamente não deveríamos ter atingindo uma população global de mais de 6 bilhões de habitantes, mas seríamos extintos por sermos presas. Porém, a evolução nos permitiu desenvolver o telencéfalo e com ele nos tornamos caçadores, criativos, construtores, observadores e modificadores do ambiente (CÓRDULA, 1999d). Somos uma espécie recente pela idade do nosso planeta, que em pouco menos de 500 anos modificamos a natureza drasticamente (TANNER, 1978) e, no século passado, aceleremos os danos ambientais ao ponto que chegamos hoje: o aquecimento global.

Ao longo do tempo, modificamos o meio ambiente como o concebemos hoje, e o mesmo refletiu estes danos à nós mesmos. Só apenas em 100 anos é que percebemos o quanto é frágil nossa ligação com o planeta e ele conosco, e desde então lutamos para expandir a visão da Terra viva Gaia, para devolver a homeostase ao meio ambiente (LOVELOCK, 2006).

Quando olhamos a nossa volta, não vemos corriqueiramente mais “(...) pessoas, corteses, nem aves, flores, árvores, só asfalto, prédios, barulhos, irritação e violência” (CÓRDULA, 1999a: p. 45). Não é necessário criar um “Éden futurista” (CÓRDULA, 1999a: p. 44), mas tornar o mundo um local seguro, apaziguado, conservado e preservado.

Córdula (1999b: p. 48), ao falar do ser humano, trata de descrever a si mesmo e toda a humanidade, no imperativo, mostrando a sua forma de ver a vida antes de ser sensibilizado e ter a consciência da preservação ambiental:

Centro do universo, possuidor de telecénfalo altamente desenvolvido que proporciona a glorificação intelectual, dotado de mãos hábeis com polegar opositor que manipulam objetos e criam a perfeição. Transformo tudo à minha volta, destruo, dou novas formas, e o que era natural torno artificial. O que não me agrada e o que for insignificante à minha magnificência, extermino do meu mundo. Deste planeta sou dono, senhor supremo. Acima de mim, só Deus, mas aqui só Eu.

Mas também, sonhar, ter esperança, acreditar em um futuro melhor, fazem parte do Ser humano e movem as nossas vidas e, por isso, temos a capacidade de mudar e ter consciência de nossos atos, para individualmente mudarmos a nós mesmo e coletivamente, mudarmos a humanidade.

Sonhar se faz necessário, e lutar por estes sonhos mais ainda. Porém, nunca devemos esquecer que a realidade está antes da janela do paraíso, e que o futuro nela mora (CÓRDULA, 1999c: p. 70)

Sempre temos o hábito de acharmos que nossos problemas são os maiores do mundo, e deixamos de ver o mundo que nos envolve. Fechamos os olhos, nos trancamos no mais profundo de nossos pensamentos, deixamos o tempo passar sem perceber que a vida também passa. E mergulhamos no mundo que criamos, abaixamos a cabeça e nos esquecemos de lutar, de viver e de ter esperança. (CÓRDULA, 1999d: p. 114).

Mudar é inato e nos conduz a humanidade que merecemos, e com ele, garantiremos um futuro, garantiremos um planeta sustentável, a que devemos chamá-lo de Terra-Mãe

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