Leia artigo de Frei Betto publicado no jornal "Correio Braziliense" de 4 de fevereiro de 2011. Para lê-lo na íntegra, clique aqui.
Esta obra de arte foi Deus que fez para todos e para sempre
Se considerarmos que o ser humano surgiu há cerca de 200 mil anos, a cidade é uma invenção relativamente recente. Durante milênios nossos ancestrais viveram como nômades coletores e, aos poucos, as técnicas de reprodução dos alimentos os fixaram como agricultores e pecuaristas. Havia, naquele longo período — como ainda hoje nas comunidades indígenas tribalizadas — relação direta entre o ser humano e a natureza. Nossos antepassados se alimentavam sem alterar ecossistemas, biomas e biodiversidade.
Essa relação se altera com o advento das cidades. A revolução tecnológica representada pelo tijolo imprime aos humanos a consciência de que não estão mais condicionados pela natureza. Agora é o ser humano que condiciona a natureza.
Os avanços científicos e tecnológicos explicam a arrogância do ser humano. Não pensamos no coletivo, pensamos no individual e no lucrativo.
Assim, nos gabamos de que o Brasil vendeu, em 2010, mais de 3 milhões de veículos automotores, embora isso agrave os congestionamentos, a poluição, a dificuldade de estacionar. Não se investe o suficiente em transportes coletivos, não se planeja o espaço urbano, alvo de especulação imobiliária e vulnerável a fenômenos climáticos decorrentes de desequilíbrios ambientais, o que causa enchentes, desabamentos e secas prolongadas.
Hoje, ganha cada vez mais espaço a proposta de bem viver dos povos indígenas andinos, conhecida como ‘sumak kawsay’. ‘Sumak’ significa plenitude, e ‘kawsay’, viver. Não se trata de viver cercado de conforto, e sim de fazer da felicidade um projeto comunitário. É saber construir relações de solidariedade, não de competição; de harmonia, não de hostilidade; e estabelecer com a natureza vínculos de parceria cuidadosa.
Frei Betto é escritor, autor de ‘O amor fecunda o Universo — ecologia e espiritualidade’, em coautoria com Marcelo Barros
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