sábado, 22 de outubro de 2011

Falta de médicos fecha seis setores do Hospital Federal Cardoso Fontes


A sala de espera da emergência pediátrica, fechada dia 30 passado (Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo)



BEM EQUIPADO, MAS VAZIO


RIO - Enquanto hospitais públicos da cidade padecem da superlotação, no Hospital Federal Cardoso Fontes, em

Jacarepaguá, na Zona Oeste, o diagnóstico é outro: emergências e leitos vazios, mas não pela ausência de

pacientes. O mal da unidade é a falta de médicos, como constatou na quinta-feira, durante uma vistoria, a

Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, que estava acompanhada do Sindicato dos Médicos e da Defensoria

Pública da União no Rio. Nos últimos dois meses, a crise se agravou e, agora, a unidade tem seis setores importantes

fora de atividade por causa do déficit de profissionais. Pelos cálculos repassados aos integrantes da comissão, esse

número passa de cem.


Salas de cirurgia estão fechadas

Na próxima segunda-feira, médicos e funcionários farão uma paralisação para protestar contra os problemas no

Cardoso Fontes, que fica às margens da Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá e numa região estratégica para os Jogos

Olímpicos de 2016.

Na quinta-feira, a bem equipada emergência pediátrica, com seis leitos, se encontrava vazia, apesar da procura

constante de mães com crianças doentes. O setor fechou as portas no dia 30 de setembro, porque não há pediatras.

Também estão inoperantes o ambulatório de especialidades pediátricas, seis das sete salas de cirurgia, a enfermaria

de cardiologia, seis leitos da unidade coronariana e seis do pós-operatório. Somente na unidade coronariana, há 27

bombas de infusão de medicamento inutilizadas. O setor, de acordo com o presidente da Comissão de Saúde da Câmara,

vereador Carlos Eduardo (PSB), teria capacidade para atender, por dia, até 600 crianças. A direção do hospital informou

à comissão que seriam necessários 39 pediatras para recolocar a emergência em funcionamento.

A emergência pediátrica, com capacidade para 600 crianças ao dia, vazia  (Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo)

A dona de casa Verônica de Souza Liberato tentava

na quinta-feira atendimento para seu filho Gabriel, de

um ano e

dois meses. Eles contou que já haviam dado meia-

volta em frente a outros dois hospitais antes de

chegar ao Cardoso Fontes.

Nesta unidade, a moradora de Jacarepaguá soube

de funcionários que ali também não haveria médico

para examinar o pequeno Gabriel, com inchaço

numa das pernas.

Verônica só conseguiu a consulta por causa da

blitz promovida pela Comissão de Saúde, com a

qual se deparou no

corredor da emergência pediátrica do hospital.

- Chegamos aqui e disseram que não ia ter

atendimento. Um funcionário me disse que

só me atenderam hoje (quinta-feira) aqui por

causa dessa visita. Disseram que, se meu filho

piorar, não vai mais ter atendimento. Esse tipo de coisa é um descaso total com a gente - afirmou Verônica.

A dona de casa Ana Maria Gracielle também circulava na quinta-feira pela área do hospital - que possui sete prédios -

em busca de atendimento para João Victor, de dois meses. No momento em que a blitz deixava a unidade, Ana Maria,

moradora da Cidade de Deus, ainda aguardava consulta para o bebê, com febre alta, falta de ar e tosse.

- Disseram que na emergência pediátrica não tinha médico. Agora, estou rodando o hospital - contou a mãe de João

Victor.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde no Rio, o hospital conta hoje com 321 médicos, sendo 235

estatutários e 86 com contratos temporários, além de 1.585 funcionários, sendo 1.341 profissionais de saúde. O total

de leitos é de 218. Por mês, segundo a Comissão de Saúde, são feitos 2.500 atendimentos na emergência e 12 mil no

ambulatório. O orçamento anual da unidade é de cerca de R$ 50 milhões.


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