sábado, 19 de dezembro de 2009

Cúpula de Copenhague acaba com texto mínimo, e ainda assim sem unanimidade

Presidência da COP15 anunciou apenas ter 'tomado nota' de documento. Arranjo foi duramente criticado por países como Venezuela, Cuba e Sudão


A cúpula da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP15), realizada em Copenhague, chegou a um "acordo de mínimos" hoje, ainda assim após superar a oposição de vários países e após um intenso debate que se prolongou durante toda a noite.
A Presidência da conferência anunciou que havia "tomado nota do acordo de Copenhague de 18 de dezembro de 2009", que incluirá uma lista dos países contrários ao texto.
O acordo de Copenhague contra o aquecimento climático, validado neste sábado, é uma etapa essencial para um futuro pacto, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. A ONU recorreu a essa fórmula para tornar operacional o acordo, que foi duramente criticado como ilegítimo por países como Venezuela, Nicarágua, Cuba, Bolívia e Sudão.
"Talvez não seja tudo o que esperávamos, mas essa decisão da conferência das partes é uma etapa essencial", declarou Ban à imprensa.
Para que pudesse se transformar em um acordo das Nações Unidas, o texto deveria ser adotado por unanimidade pelos 193 países presentes na conferência.

Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) durante coletiva de imprensa neste sábado (Foto: Olivier Morin/AFP)
O texto estava sendo negociado desde quinta-feira e foi fechado na sexta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ele praticamente invadiu uma reunião com dirigentes de China, Índia, África do Sul e Brasil.
Trata-se de um acordo de mínimos, após o fracasso de 12 dias de negociações em Copenhague para conseguir um texto ambicioso que suceda o Protocolo de Kyoto, o único tratado que obriga 37 nações industrializadas a reduzir suas emissões de dióxido de carbono (c02) e outros cinco gases do efeito estufa.
O acordo, de caráter não vinculativo, está muito longe das expectativas geradas em torno da maior reunião sobre mudança climática da história, e não determina objetivos de redução de gases do efeito estufa.
No entanto, estabelece uma contribuição anual de US$ 10 bilhões entre 2010 e 2012 para que os países mais vulneráveis façam frente aos efeitos da mudança climática, e US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para a mitigação e adaptação. Parte do dinheiro, US$ 25,2 bilhões, virá de EUA, União Européia e Japão. Ninguém sabe quem vai bancar o resto.
Participante da COP15 deixa o Bella Center: ambientalistas qualificaram 'acordo' de traição (Foto: Attila Kisbenedek/AFP)
Este acordo, uma carta de intenções elaborada na véspera pelos chefes de Estado e de governo de 30 países industrializados, emergentes e em desenvolvimento, foi apresentado durante a madrugada ante o plenário da conferência.
Muitos países admitiram que o conteúdo do acordo é insuficiente , mas o aceitam como meio de fazer a negociação avançar.
Antes do anúncio do acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confessou sua frustração em relação às negociações e garantiu que o Brasil está disposto a fazer sacrifícios para financiar os países pobres.
"Vou dizer isso com franqueza e em público, o que não disse ainda em meu próprio país, que sequer disse a minha equipe aqui, que não foi apresentado nem diante de meu Congresso. Se for necessário fazer mais sacrifícios, o Brasil está disposto a colocar dinheiro para ajudar os outros países”, declarou. Mas o "acordo" que saiu é uma carta de intenções, com conteúdo mínimo, e mesmo assim sem consenso.
Fonte: G1, com agências (adaptado)

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