O clima no calor do debate
Enquanto geleiras se dissolvem no Pacífico, a temperatura esquenta com a abertura da conferência do clima da ONU, a COP15. Até o dia 18, Copenhague vira a capital internacional do meio ambiente
No mês passado, agências internacionais noticiaram fenômeno raro: cerca de 100 icebergs se desprenderam da Antártida a caminho do litoral da Nova Zelândia. Levada pela correnteza, a massa de gelo foi avistada pela Força Aérea do país. Não muito longe, um bloco de gelo foi flagrado da praia de Sandy Bay, costa leste da ilha Macquarie – a 1,5 mil quilômetros a sudeste da Tasmânia, Austrália, sendo registrado em fotos pela Divisão Antártica Australiana.
Chegou-se até a falar em alerta naval, devido ao risco de choque com embarcações. Mas o movimento chamou a atenção, em especial, da comunidade científica, por ser novo alerta de que os ponteiros do “relógio” da crise climática na param de girar.
Segundo o Instituto de Pesquisa Atmosférica e Água, os icebergs, provavelmente, originaram-se da Plataforma de Gelo de Ross, que se rompeu entre 2000 e 2002. Os blocos estariam se deslocando rumo a norte à velocidade de 1,25 km/h, já em processo de degelo no contato com água mais temperadas. Segundo a agência EFE, fenômeno parecido ocorreu em 2006, quando um iceberg chegou a 25 quilômetros ao sul da Nova Zelândia.
Alerta da crise climática e risco à navegação mundial:
em 2007, o cruzeiro Explorer, de bandeira liberiana, naufragou próximo à Antártida,
ao se chocar contra um iceberg
Enquanto blocos de gelo se derretem, o clima promete esquentar com a abertura da COP15 – conferência do clima promovida pelas Nações Unidas, que vai estabelecer parâmetros para combater as mudanças climáticas, em Copenhague, Dinamarca. O evento vai atrair, além de chefes de Estado, ambientalistas do mundo inteiro, que se encarregarão de manter alta a temperatura das discussões.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chanceler alemã, Angela Merkel, concordaram que não será possível alcançar o “acordo ideal”. Ambos reforçaram, porém, a necessidade de se obter “resultados robustos, equilibrados e justos” para evitar que a temperatura global chegue perto de limites alarmantes. “Acho que não vamos fazer o acordo dos nossos sonhos”, disse Lula na quinta-feira em visita à Alemanha.
Lula frisou que as metas dependem das políticas internas. “Se dependesse da vontade pessoal do (presidente dos Estados Unidos, Barack) Obama, ele apresentaria um número mais arrojado. Nós fizemos uma proposta arrojada”, comparou o presidente brasileiro. Ele observou que, por ser nova, a questão do aquecimento global não tem posição fechada internacionalmente.
Mas a causa amealha contribuições. Uma das nações mais poluidoras do mundo, a Índia anunciou na quinta-feira que vai cortar sua intensidade de carbono entre 20% e 25% até 2020, face aos níveis de 2005. O anúncio,após muita pressão – os dois maiores poluidores mundiais, EUA e China, também cederam –, marca mudança na postura do país, que se recusava a fixar metas de redução de gases de efeito estufa. Quem dará mais até o dia 18, fim da conferência? Nesse “leilão” climático em favor do meio ambiente, espera-se não haver limite para o martelo ser batido.
Fonte: "O Dia", página 19, 06/12/2009
Foto: EFE
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