quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

De boné, Dilma participa de Natal de catadores e moradores de rua de SP

Durante evento em São Paulo, presidenta ouviu queixas, prometeu ações do agoverno, carregou crianças no colo e posou para foto

Ricardo Galhardo

A presidenta Dilma Rousseff pediu o aperfeiçoamento do sistema federativo nacional nesta quinta-feira, ao ser cobrada a tomar medidas contra a violência que só em 2011 provocou os assassinatos de 142 moradores de rua em todo o Brasil.

“Não posso acabar com a federação. Nenhum presidente pode. O que precisamos fazer é aperfeiçoar a federação”, afirmou a presidenta explicando que, conforme a Constituição, os Estados têm autonomia para gerir a segurança pública.

Sem citar casos específicos, Dilma acusou alguns prefeitos e governadores de praticarem políticas higienistas. “Muitas vezes o que está havendo é uma limpeza humana nas grandes cidades deste País”, afirmou a presidenta durante a celebração de Natal dos catadores de material reciclável e moradores de rua de São Paulo.

Dilma se comprometeu a interceder junto a prefeitos e governadores para reverter a situação. Segundo o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, Dilma determinou ao grupo interministerial que cuida dos projetos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 cuidado especial com os moradores das áreas a serem desapropriadas.

“Se alguém tiver que ser removido que seja para uma situação melhor”, disse ela. Embora Dilma não tenha citado nomes, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que vai conversar pessoalmente com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), sobre políticas para moradores de rua.




Foto: Agência Brasil
Dilma durante evento em São Paulo



Boné


Dilma se esforçou para substituir à altura o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na celebração de Natal dos catadores. “Minha voz está fraquejando mas vou esticar até onde der porque quero falar com vocês”, disse ela.

Dilma vestiu um boné do Movimento Nacional dos Catadores, pendurou no peito um broche feito com garrafas pet, beijou e carregou no colo filhos de catadores, levou um batalhão de ministros para o evento, falou de improviso, ouviu reclamações, ordenou publicamente que seus ministros resolvessem demandas, acompanhou cantorias com palmas (fora do ritmo), distribuiu abraços e elogios, posou para dezenas de fotografias e prometeu voltar todos os anos até o final do mandato.

“Sou a presidenta de todos os brasileiros mas fui eleita também a presidenta dos pobres deste País”, afirmou. “Não queremos ser aqueles que, do gabinete, saibam como vocês vivem e onde o calo aperta. Quem sabe onde o calo aperta são vocês”, completou.

A presença na festa de Natal dos catadores foi uma das marcas registradas dos oito anos de mandato de Lula. Em tratamento contra um câncer na garganta, Lula faltou ao evento pela primeira vez nos últimos 10 anos. Segundo pessoas próximas, o ex-presidente tinha condições de saúde, mas decidiu ficar em casa para não ofuscar Dilma em uma de suas raras incursões populares.

“Não dá para comparar. Lula vinha aqui e chorava, se emocionava. Dilma tem compromisso com os catadores, escuta nossas queixas, mas tem outro estilo”, disse Tião Santos, que presenciou as últimas nove edições da festa.

Dilma compensou a falta de lágrimas com ações de governo. A presidenta prometeu estudar a queixa dos catadores sobre as normas para incineração de lixo, incentivar a abertura de mais cooperativas de reciclagem, investigar as denúncias de assassinatos de 142 moradores de rua em 2011 e incluir o setor nas negociações sobre a lei de resíduos sólidos.

Os catadores aprovaram. “Não teve choro mas ela passou no teste”, disse a moradora de rua Isodelia dos Santos Neves, que veio de Salvador (BA) especialmente para o evento.

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