quinta-feira, 21 de abril de 2011

Aterro de Gramacho será desativado gradualmente; Centro de Tratamento de Seropédica começa a operar

Cláudio Motta e Selma Schmidt
Uma montanha de lixo de 60 metros de altura, equivalente a um prédio de 20 andares, mancha a imagem da Baía de Guanabara, um dos cartões postais do Rio. Este cenário de degradação ambiental e humana, que marca o Aterro de Gramacho, começa a ser modificado nesta quarta-feira, quando megacarretas da Comlurb passarão a jogar mil toneladas de detritos por dia no Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Seropédica. No novo empreendimento, em vez de catadores, chorume e urubus, haverá tecnologia de ponta e aproveitamento energético de resíduos.

— Gramacho parecia ser um daqueles problemas que não tinham saída. Estamos encerrando um crime ambiental que a cidade do Rio vem cometendo contra a Região Metropolitana e a Baía de Guanabara há anos. Esta é a maior vitória ambiental da cidade em toda a sua história — comemora o prefeito Eduardo Paes.

VOTE : Você acha que o fim de Gramacho resolve os problemas ambientais e sociais gerados pelo aterro sanitário?

Gramacho deverá ser desativado em 2012

Com 60 milhões de toneladas de lixo acumuladas, o processo de desativação de Gramacho será gradual, à medida em que o CTR for ampliando a sua capacidade. A previsão é que o atual aterro — que recebe nove mil toneladas de lixo por dia, sendo 6.800 mil do Rio e o restante de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis e Queimados — seja sepultado no fim do primeiro semestre de 2012. No lugar, será implantada uma Área de Proteção Ambiental (APA). Serão 15 anos de extração de gás metano e monitoramento do terreno de 1,3 milhão de metros quadrados. O CTR permitirá ainda o encerramento, até dezembro deste ano, do aterro sanitário de Gericinó.

SEM LICENÇA : Secretaria do Ambiente fecha lixão clandestino em Gramacho

A estreia de Seropédica será com as mil toneladas de lixo que são recolhidas diariamente em Barra, Jacarepaguá, Recreio e bairros vizinhos. Os detritos desta região são acumulados na estação de transferência de Jacarepaguá, de onde são levados para o CTR. A presidente da Comlurb, Angela Fonti, informa que as próximas estações de transferência a terem o seu lixo depositado em Seropédica são Irajá e Caju.

Desativação do aterro sanitário de Gramacho (Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo)

Segundo o gerente Lúcio Vianna, Gramacho tem 1.300 catadores e 40 depósitos cadastrados pela Comlurb, funcionando 24 horas. Mesmo vivendo em situação insalubre e de risco, grande parte dos catadores teme pelo seu futuro com o fim do aterro. É o caso de Jorge Peçanha, de 63 anos, que cata lixo desde 1999:

— Com a minha idade, como vou arrumar emprego? — questiona ele, que sustenta mulher, quatro filhos e três enteados.

Com a mesma idade, Joana Souza, que trabalha há seis anos em Gramacho, pensa no neto deficiente que ela cria:

— Tenho de dar um jeito. O meu neto depende de mim — conta ela, que já achou anéis e cordões de ouro no lixo.

Sandra Helena da Silva, de 35 anos e há dez em Gramacho, diz que a alternativa será voltar à atividade que abandonou:

— Sou manicure. Vou voltar a fazer unhas — contou Sandra, que cata lixo com o marido.

Pesquisa feita pelo gerente de Gramacho mostra que, em média, um catador ganha R$ 50 por dia. Mas o salário depende da agilidade de cada um deles quando os caminhões descarregam. Com 28 anos, Cleverson de Oliveira Silva, o Racing, diz que consegue tirar mil reais por semana. E é tanta a disputa que Regina Lourenço de Oliveira, de 34 anos, já se viu encoberta por lixo.

Queremos construir um novo paradigma de sucesso numa recuperação de área totalmente degradada, tanto ambiental como socialmente. Será fundamental a participação dos governos federal e estadual para encontramos alternativas para os catadores


— Teve uma vez que um caminhão descarregou o lixo em cima de mim. Só a minha cabeça ficou de fora — conta Regina, que se diz acostumada com o mau cheiro e a fazer suas refeições no aterro.

Segundo estimativa da Comlurb, os catadores conseguem retirar de 200 a 220 toneladas de material reciclável diariamente. O vaivém de caminhões é constante no aterro — são 900 por dia. À exceção dos veículos da Comlurb — que briga na Justiça contra a taxa — os demais caminhões têm de pagar de R$ 22 a R$ 55, conforme o tamanho, para descarregar.

Administrado pela Comlurb, o aterro de Gramacho é cercado e vigiado. Nos seus arredores, surgiram favelas, onde vivem muitos dos catadores, além de lixões clandestinos.

Há pelo menos sete lixões clandestinos perto do aterro

Há pelo menos sete grandes lixões clandestinos nas redondezas do aterro. No final da Rua Tocantins, ficam os dois maiores, que, no início da tarde de terça-feira, queimavam o lixo que receberam.

Para o secretário de Meio Ambiente de Caxias, Samuel Maia, o fim da operação de Gramacho não acaba com os problemas ambientais e sociais. Além da recuperação do manguezal e do controle de chorume, será necessário monitorar o aterro por pelo menos 15 anos. E os catadores que dependiam do lixo vão precisar de apoio para encontrar outra fonte de renda.

— Queremos construir um novo paradigma de sucesso numa recuperação de área totalmente degradada, tanto ambiental como socialmente. Será fundamental a participação dos governos federal e estadual para encontramos alternativas para os catadores — diz o secretário de Caxias.

O biólogo Mário Moscatelli atua em Gramacho desde 1997. Ele ressalta a importância do controle ambiental do local:

— Durante 20 anos, era realmente um lixão. Hoje, o grande problema é a chegada de lixo via Baía de Guanabara e pelos rios Sarapuí, São João e Meriti — afirma.

Um comentário:

  1. environmental independency network23 de abril de 2011 às 13:30

    Acabar com um problema transferindo-o para outro local enquanto outras tecnologias mais adequadas foram postas de lado pela incompetência de um órgão licenciador que está atrelado a lógica política partidária do partido dos traidores e seus fiéis seguidores. Quem conhece a fedentina sabe.

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