sexta-feira, 18 de julho de 2014

Em SP, árvore centenária dará espaço a empreendimento de alto padrão

No último dia 6 (julho) a administradora Sara Santos, 29, levou um susto enquanto fazia sua caminhada com o marido, ela mal podia acreditar no que via: uma figueira centenária do bairro onde mora, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo, havia sido cortada.
Sara nos contou que outros moradores do bairro também ficaram indignados com o corte da árvore. “Fiquei sabendo que algumas senhoras choraram ao ver a árvore sendo cortada. As pessoas criam laços afetivos com as plantas, com a natureza, e se não tomarmos cuidado podemos ficar no prejuízo. E como podemos!”, relatou.
Logo que avistou o tronco da árvore já cortada, a primeira reação de Sara foi fotografar e publicar a imagem nas redes sociais. A repercussão do corte foi grande; no perfil dela no Facebook, a publicação conta com quase 1 mil compartilhamentos.
Figueira inteira
Figueira centenária no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Reprodução Google Maps












A mesma figueira após o corte. No lugar, será construído empreendimento de alto padrão.
A mesma figueira após o corte. No lugar, será construído empreendimento de alto padrão. Foto: Sara Santos




“Uma árvore centenária foi cortada para ceder lugar ao empreendimento imobiliário de alto padrão. E eu não vejo onde isso pôde caber dentro da lei, então vou atrás de informações. Meus amigos advogados, ambientalistas e biólogos, alguma luz?”, escreveu Sara em seu post na internet.
Dito e feito. Sara foi atrás da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente para saber o por quê do corte da árvore. “Cortaram com autorização (da prefeitura), a construtora não está fora da lei, mas essa árvore faz parte da história do bairro, tem importância cultural para a cidade e também gera bem estar para a população, o que não foi levado em conta”, criticou.
Em nota, a prefeitura afirmou que “a remoção da árvore no bairro do Ipiranga tratava-se de uma falsa seringueira (Ficus elastica), que já havia sofrido alguns processos de poda e encontrava-se com sua copa alterada. A supressão do exemplar foi autorizada e para o local foi lavrado um Termo de Compromisso Ambiental (TCA), na qual prevê o plantio compensatório de seis exemplares arbóreos nativos da mata atlântica na calçada do empreendimento.”
Ainda sobre o caso, a construtora PDG também se manifestou por meio de nota.
“(…) Apesar dos esforços empreendidos para manter a árvore no local, a conclusão de estudo realizado pela equipe de engenharia constatou a necessidade da sua retirada. A companhia esclarece que a retirada foi realizada somente após liberação das autoridades competentes.(…)”
“Agora com o Plano Diretor- aprovado no dia 30/6 pela Câmara Municipal de São Paulo e que define as diretrizes urbanísticas do crescimento da capital paulista para os próximos 16 anos – a minha preocupação é que isso (corte de árvores) aumente. Há uma desvalorização de árvores que não são nativas (como é o caso da figueira), mas elas correspondem a 80% das árvores na cidade. Precisamos discutir o crescimento criativo e sustentável; é uma questão muito complexa, não adianta xingar a construtora, o problema é que a legislação que permite isso”, finalizou.
DENÚNCIA NO ITAIM
Recentemente o cantor e compositor Nando Reis foi à Justiça para tentar impedir a derrubada de 38 árvores de um terreno de aproximadamente 1.100 m2 vizinho a sua casa, no Itaim Bibi, bairro da zona sul de São Paulo. Com auxílio da filha, Sophia Reis, e visivelmente irritado, ele gravou um vídeo denunciando o corte das árvores.
“Esse é o futuro de São Paulo, é o Plano Diretor”, afirmou Nando, pouco antes de uma palmeira cair com estrondo. Clique aqui para assistir.
Em nota, a prefeitura afirmou “quanto à remoção de árvores no Itaim Bibi, para o local foi autorizado o corte de 38 exemplares arbóreos, sendo 23 da espécie Pinus/Eucalyptus, 10 exóticas e cinco nativas. Em contrapartida, haverá a compensação ambiental com o plantio de 161 mudas, sendo que 38 deverão ser plantadas no mesmo local da remoção e as demais poderão ser plantadas em locais determinados pela Câmara de Compensação Ambiental até o final da obra.”
SALVEM OS FICUS!
Não são somente os paulistanos que estão ‘brigando’ pela manutenção do verde nos centros urbanos, em Belo Horizonte o movimento “Fica Ficus” também luta pela preservação das árvores na capital mineira. “Nesse momento estamos fazendo denúncias pontuais, principalmente no centro e na zona sul, onde estão as árvores mais antigas. Esses Ficus estão normalmente nos canteiros da cidade. Os que adoeceram, a prefeitura quis cortar, mas na verdade o tratamento é que foi errado, eles não foram irrigados, adubados. Tentamos dialogar com a prefeitura, mas hoje o diálogo foi quebrado”, lamentou o biólogo Sérvio Pontes Ribeiro.
Ele também comentou sobre os casos recentes de São Paulo e afirmou que caso a população tivesse uma consciência ecológica, um empreendimento imobiliário com histórico semelhante não seria bem sucedido.
APÓS PROTESTOS, ÁRVORES FORAM PRESERVADAS
No Rio de Janeiro, um projeto arquitetônico da estação de metrô Ipanema (linha 4), na zona sul da cidade, previa intervenções na Praça Nossa Senhora da Paz e foi alvo de polêmicas. Após protestos, o projeto foi reconfigurado. Com isso, foi preservada a árvore mais antiga da praça, uma figueira de 12 metros de altura. Além disso, o novo projeto irá reduzir em 860 metros quadrados a área de escavação. Haverá também a conservação do lago.
Segundo o consórcio que é responsável pelas obras, das 292 árvores da praça, 215 permanecerão inalteradas, e as que forem removidas serão levadas para um sítio em Vargem Pequena, na zona oeste do Rio, onde serão cultivadas, e as que não resistirem, serão substituídas.
Outra exigência da Secretaria municipal de Meio Ambiente em relação à obra foi o plantio de 400 mudas como forma de compensação ambiental.
A primeira árvore transplantada por conta das obras da linha do metrô foi um ipê-roxo adotado e protegido há alguns anos pelo escritor Rubem Fonseca. A árvore estava em uma área na Praça Antero de Quental, no Leblon, na Zona Sul. A remoção ocorreu em dezembro, para um local na própria praça onde não haverá obra.

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