domingo, 1 de junho de 2014

Famílias sem água, luz e acesso a serviços públicos em Jardim Gramacho

Estudo mostra situação de exclusão e pobreza em Caxias

NONATO VIEGAS
Rio - Para beber água, a vendedora de salgados Silmery Correia dos Santos,
33 anos, grávida de três meses, anda três quilômetros até chegar a uma
torneira pública em Jardim Gramacho, Duque de Caxias. Assim como a
vendedora, 1.500 moradores — 30% dos cinco mil de oito comunidades
da região — vivem na extrema pobreza, segundo levantamento da ONG
Teto, com base em dados do IBGE. Eles não têm água encanada, esgoto,
banheiro e energia elétrica.
“Quando acaba e bate a sede, no sol ou na chuva, só andando”, lamenta
Silmery. Ela e o marido Sidcley da Silva Santos, 39, catador de material
reciclável, não têm carteira assinada nem terminaram o Ensino Fundamental.
O casal é o perfil da maioria dos moradores que vivem bo entorno do antigo
Aterro Metropolitano, fechado em junho de 2012.

Moradores têm que caminhar até três quilômetros para apanhar água potável para beber e higiene pessoal
Foto:  Divulgação

Ainda segundo o estudo, realizado no fim de 2013 com 652 famílias e
publicada agora com exclusividade pelo DIA , mais de dois terços (74,8%)
das moradias não possuem água encanada; apenas 4% dos lares têm energia
elétrica de forma regular; e 95% das casas não estão conectadas à rede de
esgoto.
O levantamento também constatou que só 10,3% das pessoas maiores de
25 anos terminaram o Ensino Fundamental. E, pior, que 38,3% dos adolescentes
entre 15 e 17 anos não frequentam qualquer instituição escolar.
Quando comparados aos números de Duque de Caxias ou aos do Rio, os
dados ganham contornos mais dramáticos. Em Caxias, por exemplo, mais
de a metade (54,9%) dos maiores de 25 anos terminou o Ensino Fundamental;
e, no Rio, o percentual é de 70,5%.
Silmery, entretanto, está entre os 89,7% do bairro que não concluíram o
primeiro segmento educacional e faz parte do grupo dos 49,5% que não têm
carteira assinada. No município, só um quinto (18,7%) das pessoas está na
mesma situação. No Rio, o índice é menor: 14,1%.“Não bastasse isso, as casas
da região são muito precárias e, quase todas, sem nenhum tipo de acesso aos
serviços essenciais, como água, esgoto e energia”, constata Ariel Macena, diretor
operacional da ONG no Brasil, que no último mês construiu na localidade 14
casas pré-fabricadas emergenciais.
Prefeitura promete casas
A família de Silmery Correia dos Santos foi uma das 14 que receberam, em
abril, casas pré-fabricadas da Teto, no Jardim Gramacho. Antes, ela morava
“num barraquinho”, pelo qual pagava R$ 70 de aluguel. Embora hoje esteja
abrigada, sua casa permanece sem água, sem esgoto e sem energia elétrica.
A situação dela, como a de outras famílias, não tem prazo para mudar. Procurada,
a prefeitura afirmou que prevê para o segundo semestre a inauguração de escola
técnica, em parceria com a Faetec. Também informou que apresentou projeto ao
governo federal para reassentar famílias em 1.500 unidades que serão construídas
pelo Minha Casa, Minha Vida.


Família de Silmery foi uma das 14 que receberam em abril casas da ONG Teto
Foto:  Divulgação

Vida piorou após fim de aterro sanitário
O fechamento em junho de 2012 do maior aterro sanitário da América
Latina, em Jardim Gramacho, em vez de melhorar, agravou a situação dos
 moradores. “As pessoas estão com dificuldades para se sustentar. O lixão
era a fonte de renda delas”, explica Ariel Macena, da ONG. Nos cerca de 1,3
milhão de metros quadrados, trabalhavam 1,7 mil catadores. Na época, eles
receberam indenização de R$ 14 mil.
Vários deles, porém, voltaram ao lixo, trabalhando, no entanto, em vazadouros
clandestinos, que, conforme mostrou O DIA em janeiro, são comandado pelo
tráfico de drogas. De lá até aqui, nada mudou. Prometida após a denúncia, a
 instalação de uma central de monitoramento para impedir a entrada de caminhões
com lixo não saiu do papel. E os aterros não fecharam.
Fonte: Jornal O Dia.

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