domingo, 14 de setembro de 2014

Estudo aponta que 137 mil jovens na Baixada não estudam nem trabalham

Números se aproximam do cenário encontrado no Nordeste, região mais pobre do país

MARIA LUISA BARROS

Rio - Um em cada três jovens da Baixada Fluminense, com idade entre 18 e 24 anos, não trabalha e tampouco estuda. Eles fazem parte da ‘geração nem-nem’, formada por brasileiros fora do mercado de trabalho, por falta de qualificação profissional, e que há muito desistiram dos bancos escolares, desestimulados por seguidas repetências. O estudo faz parte da quinta reportagem da parceria do DIA com a Casa Fluminense, instituição que pesquisa a realidade da Região Metropolitana do Rio. O Censo 2010 do IBGE, utilizado como fonte, mostra que a realidade atinge 137.990 jovens (32,2%) de um universo formado por 428.637 pessoas na região.
Foto:  Arte O Dia
Os números se aproximam do cenário encontrado no Nordeste, região mais pobre do país onde há a maior concentração dessa geração. Na capital fluminense a situação é menos dramática, mas preocupante. Os ‘nem-nem’ representam 176.348 cariocas, que correspondem a 25,3% do total de 695.792 pessoas. O Estado de São Paulo, por exemplo, tem 23,3%, enquanto Minas soma 23,5% e o Espírito Santo,
24,8%.
Para os especialistas ouvidos pelo DIA, falta estímulo para retomar os estudos em escolas de baixa qualidade. A idade avançada é outra barreira difícil de transpor. O fenômeno é mais comum entre a população de baixa renda, mas também afeta famílias de classe média, cujos jovens tendem a adiar a saída da casa dos pais ou a depender da aposentadoria dos mais velhos. Segundo o autor do estudo, o mestre em Economia da Casa Fluminense Vitor Mihessen, a situação está relacionada à precária mobilidade no Rio, sobretudo na Baixada, onde se perde até 3 horas por dia no trânsito.
“A falta de um transporte de massa de qualidade, e de baixo custo, é um forte impedidor da saída desses jovens em busca de emprego”, diz. Na opinião dele, o problema é ainda pior para as mulheres. “Não sobra tempo para cuidar dos filhos, se ela fica 8 horas no trabalho e mais 3 horas no trânsito”, resssalta.
Entre os municípios da Baixada, Duque de Caxias é a campeã no ranking dos ‘nem-nem’, seguida por Nova Iguaçu e Belford Roxo. Por outro lado, em números proporcionais ao total de jovens, Japeri lidera, com 40,7% de desocupados nessa faixa etária. Mihessen lembra que é grande a rotatividade entre os jovens nas empresa. “Algumas funções antigas não se modernizaram a ponto de atrair os jovens e não há estímulo ao empreendedorismo”,diz.
Para cineasta, falta estímulo
Há três anos, a Agência de Redes para a Juventude trabalha com jovens de nove favelas cariocas, oferecendo bolsas de estudo e apoio a projetos empreendedores. Criada pelo escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini, a agência é um modelo de ação social que cria uma nova perspectiva de futuro. “Não adianta culpar os jovens pelo problema. O próprio nome ‘nem-nem’ é depreciativo. É preciso identificar o que ele gosta de fazer. A própria diversão dessa geração pode ser estimulada para projetos empreendedores.
Foi assim com a Batalha do Passinho e o funk”, propõe Faustini, que sugere ainda ampliação de creches e melhoria na mobilidade urbana. “Eles têm um enorme potencial criativo. Foi essa juventude que criou o serviço de mototaxi para resolver a falta de transporte nas comunidades”, diz Faustini.
Maternidade vira drama
As mulheres representam mais da metade dos jovens ‘nem-nem’. Na Baixada, elas somam 86.724 desocupados, contra 51.266 dos homens. Em alguns municípios da região, a distância entre gêneros chega a ser mais que o dobro. Caso de Seropédica, onde 16,4% dos homens estão sem atividade. Já o percentual de mulheres é de 39,3%. Cenário semelhante a Guapimirim, que registra índices de 20% e 43,5%, respectivamente.
A explicação para o fenômeno pode estar relacionada à uma maternidade precoce. “Muito provavelmente, são meninas que tiveram filhos cedo e pararam de estudar. Elas tendem a repetir o exemplo que veem em casa, em que o homem é o provedor, e a mãe cuida do lar”, diz Vitor Mihessen.
Fonte: Jornal O Dia








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